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TRIBOS URBANAS IARA REGINA ARTIGAS NEUMA MORAES MACEDO
A adolescência refere-se ao período de latência social constituida a partir da sociedade capitalista, gerada por questões de ingresso no mercado de trabalho e extensão do período escolar, da necessidade do preparo técnico e da necessidade de justificar o distanciamento do trabalho de determinado grupo social.
Até meados do século passado, a entrada no mundo adulto costumava ser marcada por ritos de passagem (a exemplo do que ocorre ainda hoje em sociedades tradicionais, como as indígenas). No Brasil dos anos 50, por exemplo, a entrada na puberdade era assinalada pela substituição da calça curta pela comprida (no caso dos meninos) e dos sapatos de salto baixo pelos de salto alto (para as meninas). Os ritos ajudavam os jovens a se sentir valorizados, a processar essa mudança de fase e a atribuir significados positivos a ela.
Identidade Desde criança, por meio das relações que estabelece com o mundo e com os outros, o ser humano constrói sua identidade: a partir do grupo social a que pertence; do contexto familiar e das experiências individuais; e de acordo com os valores, ideias e normas que organizam sua visão de mundo.
Sentimento de identidade O que eu penso que sou  O que os outros  o que penso Pensam que sou  que os outros pensam que sou
O GRUPO SOCIAL Quando chega a puberdade, o adolescente não se contenta mais apenas com a rede protetora da família e busca fora de casa outras referências para se formar como sujeito. É por isso que, nessa hora, os amigos crescem em importância. Por meio deles, o jovem exercita papéis sociais, se identifica com comportamentos e valores e busca segurança para lutar contra a angústia da solidão típica da fase.
Pertencer a um grupo e ser valorizado por seus pares,  facilita o relacionamento consigo mesmo, fortalece  a  auto-estima  e  prepara  o  adolescente  para  a  convivência em diferentes contextos. Em seu trabalho  Psicologia de Grupo e Análise do Ego , o fundador da Psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), diz que a pessoa só pertence a um grupo quando entra num processo de identificação com os outros, ou seja, quando constrói laços emocionais com base em objetos reais ou simbólicos compartilhados. Isso quer dizer que toda coletividade tem um código em comum que abarca desde ideias sobre o mundo até regras de comportamento que passam por hábitos e vestuário.
Da mesma maneira, é preciso também atentar para os aspectos problemáticos que surgem com a formação de grupos. Muitas vezes, por medo do isolamento, jovens acabam adotando regras e comportamentos coletivos sem colocá-los em questão, ao mesmo tempo em que anseiam pela identidade própria, eles percebem que ser igual a todo mundo é a saída mais segura para não se expor e perder a aprovação.
Outro aspecto importante dos grupos diz respeito à consolidação da noção do que significa ser homem ou mulher na sociedade. Ao se afastar dos pais em busca de novas referências masculinas e femininas, os adolescentes procuram seus iguais para entender quais códigos de conduta regem essas relações. Não é por acaso que os grupos geralmente começam com integrantes do mesmo sexo, que partilham informações e encorajam os outros à aproximação sexual com membros da mesma turma ou de outra.
Podemos perceber que as tribos provém desta busca de referencias perdidas e do encontro com outros indivíduos, que também compartilham uma substancial relação de vários aspectos de seus próprios pensamentos e sentimentos.  Outro fator importante a ser considerado refere-se aos motivos pelos quais anteriormente levavam adolescentes a participarem de grupos ou tribos, antes havia  uma conotação mais politica, agora o que permeia estas relações são as semelhanças nos interesses.

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Como as tribos urbanas ajudam os adolescentes a construir sua identidade

  • 1. TRIBOS URBANAS IARA REGINA ARTIGAS NEUMA MORAES MACEDO
  • 2. A adolescência refere-se ao período de latência social constituida a partir da sociedade capitalista, gerada por questões de ingresso no mercado de trabalho e extensão do período escolar, da necessidade do preparo técnico e da necessidade de justificar o distanciamento do trabalho de determinado grupo social.
  • 3. Até meados do século passado, a entrada no mundo adulto costumava ser marcada por ritos de passagem (a exemplo do que ocorre ainda hoje em sociedades tradicionais, como as indígenas). No Brasil dos anos 50, por exemplo, a entrada na puberdade era assinalada pela substituição da calça curta pela comprida (no caso dos meninos) e dos sapatos de salto baixo pelos de salto alto (para as meninas). Os ritos ajudavam os jovens a se sentir valorizados, a processar essa mudança de fase e a atribuir significados positivos a ela.
  • 4. Identidade Desde criança, por meio das relações que estabelece com o mundo e com os outros, o ser humano constrói sua identidade: a partir do grupo social a que pertence; do contexto familiar e das experiências individuais; e de acordo com os valores, ideias e normas que organizam sua visão de mundo.
  • 5. Sentimento de identidade O que eu penso que sou O que os outros o que penso Pensam que sou que os outros pensam que sou
  • 6. O GRUPO SOCIAL Quando chega a puberdade, o adolescente não se contenta mais apenas com a rede protetora da família e busca fora de casa outras referências para se formar como sujeito. É por isso que, nessa hora, os amigos crescem em importância. Por meio deles, o jovem exercita papéis sociais, se identifica com comportamentos e valores e busca segurança para lutar contra a angústia da solidão típica da fase.
  • 7. Pertencer a um grupo e ser valorizado por seus pares, facilita o relacionamento consigo mesmo, fortalece a auto-estima e prepara o adolescente para a convivência em diferentes contextos. Em seu trabalho Psicologia de Grupo e Análise do Ego , o fundador da Psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), diz que a pessoa só pertence a um grupo quando entra num processo de identificação com os outros, ou seja, quando constrói laços emocionais com base em objetos reais ou simbólicos compartilhados. Isso quer dizer que toda coletividade tem um código em comum que abarca desde ideias sobre o mundo até regras de comportamento que passam por hábitos e vestuário.
  • 8. Da mesma maneira, é preciso também atentar para os aspectos problemáticos que surgem com a formação de grupos. Muitas vezes, por medo do isolamento, jovens acabam adotando regras e comportamentos coletivos sem colocá-los em questão, ao mesmo tempo em que anseiam pela identidade própria, eles percebem que ser igual a todo mundo é a saída mais segura para não se expor e perder a aprovação.
  • 9. Outro aspecto importante dos grupos diz respeito à consolidação da noção do que significa ser homem ou mulher na sociedade. Ao se afastar dos pais em busca de novas referências masculinas e femininas, os adolescentes procuram seus iguais para entender quais códigos de conduta regem essas relações. Não é por acaso que os grupos geralmente começam com integrantes do mesmo sexo, que partilham informações e encorajam os outros à aproximação sexual com membros da mesma turma ou de outra.
  • 10. Podemos perceber que as tribos provém desta busca de referencias perdidas e do encontro com outros indivíduos, que também compartilham uma substancial relação de vários aspectos de seus próprios pensamentos e sentimentos. Outro fator importante a ser considerado refere-se aos motivos pelos quais anteriormente levavam adolescentes a participarem de grupos ou tribos, antes havia uma conotação mais politica, agora o que permeia estas relações são as semelhanças nos interesses.